O réu: Jesus de Nazaré
Actualmente, estuda-se cada vez mais sobre Jesus.
Contudo o que a história sabe sobre ele não avançou
muito nos últimos 2 mil anos.
Além da Bíblia, são raríssimas as referências a Jesus.
Há os chamados Evangelhos de Nag Hammadi, encontrados
no Egito em 1945. São mais de 60 textos escritos em copta
(idioma falado no Egipto bizantino) e que faziam parte de
uma coleção de textos cristãos do século 4. Esses livros
revelam um Jesus místico, milagreiro, mas muito pouco
somaram ao personagem histórico.
Já os chamados Manuscritos do Mar Morto, escritos em
aramaico (a língua falada na Palestina na época de Jesus),
entre 152 a.C. e 68, pelos essênios (uma seita judaica
contemporânea de Jesus), tinham um ótimo potencial para
renovar o conhecimento histórico sobre Jesus. Encontrados
em 1947, em Qumram, Israel, só foram completamente
decifrados em 2002 e não citam Jesus nenhuma vez.
A historiografia grega e judaica tão pródiga em personagens
da Antiguidade também ignora Jesus. Restam-nos os textos
romanos, escritos todos depois da morte de Jesus.
Entre eles,os de Flávio Josefo, autor de Antiguidades Judaicas.
Porém uma dúvida paira sobre o trecho em que cita Jesus.
Josefo afirma que Jesus “fazia milagres e que “apareceu três
dias depois da sua morte, de novo vivo”.
Para Ângelo Chaniotis, do Centro de Estudos de Documentos
Antigos da Universidade de Oxford, é discutível que esse trecho
seja realmente de Josefo. “Um judeu que se tornou cidadão
romano não acreditaria que Jesus era o Messias.”
Para ele, o trecho deve ter sido adicionado pelos monges
cristãos que tiveram acesso ao texto a fim de copiá-lo,
entre os séculos 6 e 11.
Se são raras as vozes da história sobre a vida de Jesus,
o silêncio é ainda maior quando se procuram vestígios
arqueológicos. Em 2002, anunciou-se o que seria a redenção
dos que acreditam nos evangelhos: uma urna funerária com
o nome de Jesus escrito. Meses depois provou-se que era uma
falsificação. Até hoje não se descobriu nenhum traço arqueológico
directamente associado a Jesus.
No entanto, a arqueologia tem tido sucesso em fornecer subsídios
para reconstruirmos o momento histórico no qual teria vivido Jesus.
Um exemplo é o trabalho nas imediações de Nazaré.
Escavações encontraram grande número de construções romanas
do século 1. O fato jogou nova luz sobre a profissão Jesus.
A palavra usada na Bíblia para designar o que Jesus fazia é tekton,
que tanto pode significar carpinteiro como biscateiro.
“As novas descobertas mostram que a Galileia, e em particular a
região de Nazaré, era um verdadeiro canteiro de obras na época
de Jesus. Praticamente todos os homens adultos estavam envolvidos
com alguma actividade ligada à construção civil”, diz Gabriel Cornelli,
professor de teologia e filosofia da Universidade Metodista de São
Paulo.
Mas como esse camponês que ajudava a erguer paredes para os
romanos acabou condenado e morto alguns anos depois?