Os Segredos Esotéricos das Catedrais - continuação
Difícil acreditar que esse jogo de formas seja casual,
pois desde sua origem, a geometria sempre esteve de
mãos dadas com a magia, e muitos dos seus símbolos
foram adotados para exprimir conceitos esotéricos, como
o triângulo, que, entre outras coisas, é um emblema da
Trindade Cristã. Esse tipo de associação com o sagrado
transformou várias figuras geométricas em egrégoras
(centros de energia) de grande poder, capazes de agir
sobre o inconsciente do homem, despertando-lhe a energia
interior.
Outro efeito sutil - mas intencional - do estilo gótico é a
sensação de êxtase que ele provoca. “Enquanto as igrejas
românicas eram escuras, lembrando cavernas, as catedrais
góticas são exuberantes, convidam a olhar para o alto e dão
um sentido ascensional ao ato de estar na igreja”, diz o
teólogo Edmundo Pellizari. Em sua interpretação, as igrejas
românicas traduzem a influência dos elementos terra e água,
fazendo o homem se voltar para dentro de si mesmo.
Já o gótico é um símbolo da verticalização da fé e convida a
uma união com o divino. Seus elementos seriam o fogo e o ar
- purificação iniciática e elevação espiritual -, que se expressam
em vitrais e torres, cujas formas lembram labaredas.
“Sem falar nas cores das rosáceas (vitrais circulares, geralmente
localizados sobre o pórtico central), em que o vermelho se
destaca.
A intenção era que, durante as Vésperas e na Hora Mariana
(horários canônicos correspondentes a 6 e 18 horas), a
luminosidade filtrada criasse a sensação de um incêndio,
verdadeiro fogo iniciático", completa Pellizari.
Consideradas pantáculos (espécies de talismãs) do cristianismo,
as rosáceas são a principal fonte de entrada de luz no interior
das catedrais góticas. Geralmente, há duas delas nas laterais e
outra, a principal, sobre o pórtico central, marcando a fronteira
entre o sagrado e o profano. Para o ocultista Léo Reisler, essas
rosáceas são mandalas perfeitos e funcionam como "um mapa"
das tradições que estão sendo passadas: "Uma das chaves para
sua interpretação são as cores usadas, que se limitam àquelas
que compõem o arco-íris, pois, arquetipicamente, simbolizam a
aliança de Deus com o homem, no fim do dilúvio”. Também os
alquimistas dão grande importância a esse elemento da arquitetura
gótica. E, até o final da Idade Média, a rosácea central era chamada
de A Roda, que, na alquimia, simboliza o tempo necessário para o
fogo agir sobre a matéria, transmutando-a. Visão reforçada pelo
esquema de incidência de luz sobre elas. A rosácea da lateral
esquerda, por exemplo, nunca é iluminada pelo sol. Representa,
por isso, a cor negra, que é a matéria em seu estado bruto, a
morte. Já a da direita se ilumina com o sol do meio-dia e irradia
uma luminosidade branca, que é a cor do iniciado que acaba de
abandonar as trevas. Finalmente, a rosácea central, ao receber
a luz do pôr-do-sol, parece incendiar-se e banha o templo com
um tom rubro, sinônimo da perfeição absoluta, da predominância
do espírito sobre a matéria. Há, ainda, uma terceira corrente de
pensadores que compara as rosáceas a flores, símbolos da pureza,
da castidade e do feminino - qualidades valorizadas na era medieval,
que, acima de tudo, cultuou a Virgem Maria.