A vida depois da morte nas diferentes crenças
Islamismo
"Toda alma provará o sabor da morte e, no Dia da Ressurreição, sereis recompensados integralmente pelos vossos atos; quem for afastado do fogo infernal e introduzido no Paraíso, triunfará. Que é a vida terrena, senão um prazer ilusório?" (AlCorão, versículo 185)
Para os muçulmanos, Alá (o seu Deus) criou o mundo e por essa razão trará de volta todos os mortos no último dia. Todos terão direito a um julgamento começará uma nova vida depois da avaliação divina. Esta vida funciona então como uma preparação para uma outra existência, seja no céu ou no inferno. Quando alguém morre, começa o primeiro dia da eternidade. A morte é assim vista como uma passagem para uma vida eterna. Ao morrer, a alma fica a aguardar o dia da ressurreição (juízo final) para ser julgada pelo criador, e deseja regressar ao seu corpo físico mas muito mais jovem e sem imperfeições. O inferno está reservado para as almas desobedientes, que foram desviadas pelo Diabo. No Alcorão, o livro sagrado desta religião, o Inferno é descrito como um lugar negro com labaredas de fogo em toda a volta, onde as pessoas são castigadas severamente e para todo o sempre. Para o paraíso, vão as almas que obedeceram e seguiram a mensagem de Alá e as tradições dos profetas. No Alcorão, o paraíso é descrito como um lugar com rios de leite e outras belezas jamais vistas pelo homem. Relativamente aos rituais fúnebres o corpo do defunto é lavado pelos familiares -sempre do mesmo sexo - e enrolado em três panos brancos. Depois, é colocado num caixão para que os parentes mais próximos se despeçam dele. De seguida, o corpo é levado à mesquita do cemitério islâmico e a partir deste momento apenas os homens participam da cerimónia. As orações para a alma da pessoa duram cerca de duas horas. O caixão, que deverá ser o mais simples, é levado para o túmulo, composto por quatro paredes de pedra, onde o corpo será colocado sem o caixão no qual foi transportado. O buraco é tapado com pedras e só depois de totalmente fechado é que colocam a terra por cima. Pelas leis muçulmanas não é permitida qualquer cremação. O luto dura três dias, pois a morte é vista como algo natural. No entanto, quando é a mulher a perder o marido, o tempo de luto é de 4 meses e 10 dias. Durante todo este tempo a mulher não pode sair de casa, a não ser em caso de uma emergência. |
Espiritismo
"Melhorados os homens, não fornecerão ao mundo invisível senão bons espíritos; estes, encarnando-se, por sua vez só fornecerão à Humanidade corporal elementos aperfeiçoados. A Terra deixará, então, de ser um mundo expiatório e os homens não sofrerão mais as misérias decorrentes das suas imperfeições." Allan Kardec
Doutrina do século XIX criada pelo francês Alan Kardec, defende a continuação da vida após a morte num novo plano espiritual ou pela reencarnação num outro corpo. Esta doutrina acredita que podem ser invocados os espíritos dos mortos, pois após a morte física, o espírito ascende a uma outra realidade onde se aventura numa nova vida. Significa que para os seguidores desta doutrina, a morte não existe porque o espírito continua a permanecer. Aqueles que praticam o bem evoluem rapidamente. Os que, pelo contrário, praticam o mal recebem novas oportunidades de melhoria através de sucessivas reencarnações. Creem na eternidade da alma e na existência de Deus, mas não como criador de pessoas, mas sim como o criador de espíritos simples e outros ignorantes, sem discernimento do bem e do mal. Não há qualquer simbologia do céu e do inferno, que segundo estes crentes, são ideias construídas pelo próprio homem. Pela teoria, todos os seres humanos são espíritos reencarnados na Terra que estão neste espaço para evoluir. A morte seria apenas a passagem da alma do mundo físico para a sua verdadeira vida no mundo espiritual. E mesmo nesse mundo acreditam que o espírito esteja em constante evolução de forma a alcançar a perfeição moral. As almas dos mortos ligam-se umas às outras como se pertencessem a famílias espirituais, guiadas pela sintonia entre elas. Consequentemente, os lugares onde vivem possuem níveis vibratórios diferentes, sendo uns mais infelizes e sofredores e outros mais felizes e plenos. Nos seus rituais fúnebres, os espíritas velam o defunto e enterram da mesma forma que as outras religiões. O velório é acompanhado de diversas rezas para que o espírito possa continuar perto do corpo durante mais algum tempo, de forma a encontrar-se e a ascender em paz. Dois símbolos fúnebres que não são utilizados por esta doutrina são as velas e as flores. Pode existir cremação, o que não existe é o luto, pois como para eles o corpo físico é nada mais do que um meio de transporte do espírito, têm a certeza que o mesmo vai reencarnar e evoluir, ou seja, continuar a existir. |
Igreja evangélica
“Acho impossível que um indivíduo contemplando o céu possa dizer que não existe um Criador.” Abraham Lincoln Como na Igreja Católica, os evangélicos acreditam que há um julgamento para a alma e que esse mesmo julgamento resulta na condenação (ida para o inferno) e ou na eternidade da alma (céu). A diferença entre as duas religiões é que os evangélicos acreditam que a alma faz uma grande viagem e a ressurreição só acontecerá quando Jesus voltar à Terra, na chamada “Ressurreição dos Justos”, ou, então, aqueles que forem condenados ao Inferno terão uma nova oportunidade de ressurreição no “Julgamento Final”. Os evangélicos sustentam que a morte física é resultado do pecado. Quando Deus criou o homem, não o fez para envelhecer, adoecer ou morrer, mas porque o homem optou por se afastar do criador, por renunciar os ensinamentos, acabou por escolher o caminho do pecado e da desobediência e consequentemente o caminho da morte. |
Igreja Batista
“Onde está, ó morte a tua vitória? Graças a Deus que nos dá a vida por intermédio de Cristo Jesus (Apostolo Paulo nos Coríntios 15.55 a 57)” Os seguidores desta religião creem que a morte física é a separação entre a alma e o corpo e que a morte espiritual é a separação da pessoa de Deus. Os que, após a morte física, acreditam ou passam a confiar em Jesus Cristo, vão para o paraíso onde terão uma vida repleta de paz e felicidade. Com a morte espiritual, a alma vai para o Inferno para uma vida de angústia, sofrimento, dor e tormentos e onde viverá eternamente se não acreditar em Jesus Cristo. |
Catolicismo
“Ó meu Senhor Jesus, eu estou pronto a seguir-te mesmo no cárcere, mesmo até à morte, a imolar a minha vida por teu amor, porque sacrificaste a tua vida por nós." Santo António, padroeiro dos pobres A morte para os católicos vem com os conceitos de um Céu, de um Inferno e de um Purgatório. A avaliação dos atos de cada um na sua vida terrena decide para qual destes lugares vai a alma repousar eternamente. Os católicos consideram que a alma é única e por essa razão não regressa reencarnada em outros corpos físicos. Para eles, os únicos princípios são o da imortalidade e da ressurreição e não o da reencarnação. O livro sagrado desta religião é a Bíblia, é por ela que se regem e é nela que está escrito que o ser humano morre uma única vez. É nessa morte que a pessoa é julgada e se obtiver o perdão pelas suas ações, vai para o Céu onde viverá feliz e em comunhão com os outros semelhantes mas, se por outro lado, for condenada, vai para o Inferno onde viverá rodeada de fogo ardente e de almas que sofrem horrores para toda a eternidade. O purgatório é para o catolicismo uma espécie de oportunidade de redenção da alma. É para lá que ela vai para ser purificada, não é um lugar físico mas sim uma experiência existencial. As almas que vão para o céu ressuscitarão no dia do “Juízo Final” e poderão viver eternamente, e é nesse dia que os justos e os pecadores são separados para todo o sempre. Para o catolicismo a morte é vista como uma passagem, como o batismo definitivo para o caminho para a vida eterna. A pessoa é julgada na sua morte pelos valores divinos que seguiu em vida: o amor, a fraternidade, a justiça, a verdade, a solidariedade, etc. Ideais que remetem à palavra de Deus. Nos rituais fúnebres, os católicos velam o corpo do defunto com orações e o padre encomenda a vida do defunto às mãos de Deus. Neste ritual há a celebração da passagem do morto à luz do mistério da morte, por meio de orações específicas e da bênção do corpo. Os católicos utilizam símbolos como as velas e flores. Para esta religião, as velas simbolizam a luz que é Cristo ressuscitado e as flores são consideradas como o início da vida eterna que floresce naquele momento. O corpo do defunto pode ser enterrado ou cremado. No momento do enterro, há uma bênção final dada pelo padre, cujo objetivo é pedir o acolhimento do corpo pela terra. Depois do ritual fúnebre, é usual ocorrerem celebrações em memória do morto no sétimo dia após o seu enterro, no primeiro mês e no primeiro ano. |
Judaísmo
“E o Todo Poderoso formou o homem do pó da terra e soprou nas suas narinas a alma da vida". Tora, livro sagrado do Judaísmo O judaísmo é uma religião que não crê num único indivíduo, mas sim num povo que foi escolhido por Deus para iluminar e guiar a humanidade - o Povo Hebraico. O livro sagrado é a Bíblia. Os textos correspondem aos do Antigo Testamento dos cristãos, com poucas adaptações e esses textos são chamados de Torá. O judaísmo acredita que após a morte, a alma sobrevive, podendo voltar à terra para completar a sua missão, ou seja, acreditam na reencarnação, mas não reforçam bem a ideia de existir uma vida após a morte. O que acreditam é que a morte não é o fim da vida, apenas do corpo material. Descrita como a religião das múltiplas interpretações, o judaísmo tem diversas ramificações: umas acreditam na reencarnação da alma em outros corpos, e outras acreditam na ressurreição dos mortos, ou seja, o regresso da alma ao mesmo corpo físico. A pessoa que estiver a morrer, deve colocar a sua vida em ordem, deixar a sua mensagem à família e a quem for importante para ele e fazer a sua última confissão. Esta confissão é encarada como o elemento mais importante para a passagem para o outro mundo. Apesar de acreditarem que a alma exista para a eternidade, os judeus expressam a sua dor pela perda daqueles que mais amam de várias formas. Nos rituais fúnebres, quando um judeu morre, há um ritual chamado de tahará, que significa purificação no qual o corpo do defunto é lavado pelo chevra kadisha, que é o seu grupo sagrado. Os judeus não permitem qualquer autópsia, nada poderá violar o corpo físico. Depois de lavado, o corpo é envolvido em várias camadas de panos brancos e o caixão é fechado para que não seja mais tocado. A cerimónia fúnebre deve acontecer o mais rápido possível e são acompanhadas por rezas. Os caixões estão sempre fechados, pois encaram que a exposição do corpo é um sinal de desrespeito. Não usam qualquer simbolismo, portanto objetos como flores e velas não existem. Os judeus acreditam que na morte tudo deve ser o mais simples possível, desde das vestimentas, daí unicamente os panos brancos, ao caixão que é de uma madeira simples, sem ornamentos. Esta religião assim como não permite as autópsias, é totalmente contra a cremação, ou seja a destruição do corpo físico, pois na reencarnação a alma tem que regressar ao corpo original e o mesmo deverá permanecer tal como foi enterrado. O luto dos familiares é feito por três etapas: a primeira tem a duração de uma semana e neste período os familiares não saem de casa por nenhuma razão e trabalham apenas o espiritual, deixando de fora os cuidados com o corpo e as suas necessidades físicas. Nos dias seguintes à primeira semana, e até completarem 30 dias depois da morte, os homens não fazem a barba, bem como os cabelos não podem ser cortados. O luto termina definitivamente um ano após a data da morte, mas o defunto será sempre recordado em todos os aniversários seguintes. Os judeus acreditam que fingir que nada aconteceu é reprimir os sentimentos. |
Protestantismo
“Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno" Martinho Lutero, sacerdote e figura essencial da reforma protestante
Religião que tem as suas raízes no século XV emergiu como uma forma de protesto contra a doutrina do catolicismo romano da Europa Ocidental. Os protestantes acreditam que a morte é apenas uma passagem para outra vida e não aceitam a reencarnação, tal como vimos anteriormente com os católicos. Acreditam que após a morte a alma é limitada, pois o corpo ressuscitará. Esta religião acredita nos conceitos de céu e inferno e o julgamento que ditará para qual dos dois mundos a alma vai, ocorre não pelas ações praticadas em vida, mas pela fé demonstrada na palavra de Deus e pelo amor ao Senhor. Nos rituais fúnebres, os protestantes assemelham-se às outras religiões. A principal característica é que quando um protestante morre, todo o ritual do velório é feito em função da família do defunto e não do defunto em si. Normalmente o ritual é feito pelo pastor e ocorre dentro da igreja ou no cemitério. Em termos de símbolos, os protestantes não usam velas, apenas as flores. A participação da comunidade religiosa nestas últimas horas é muito importante. São feitas leituras bíblicas e orações espontâneas no cemitério. O corpo do defunto pode ser cremado ou simplesmente enterrado. Uma diferença em relação à Igreja Católica, é que os protestantes não celebram o defunto após a morte, por isso não são comuns as missas ou as rezas após o funeral. Se a família desejar, pode fazer uma reza de gratidão a Deus pela vida da pessoa, mas não é obrigada a tal. O protestantismo não obriga a qualquer tipo de luto. |
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